Atacar as raíces da pobreza

Queridos irmãos e irmãs da SSVP reunidos na bela cidade de Oporto. Escrevo enquanto realizo um serviço aos Vicentinos da Província da América Central na Guatemala. País que anos atrás sofreu um enorme extermínio de povos nativos sob as ordens do general José Efraín Ríos Montt. Quanta dor e injustiça! Como contrapartida, pensei em Federico Ozanam, que demonstrou um forte compromisso social desde tenra idade e o fez com uma grande coerência de vida. De modo que nele, as palavras e os atos se uniram com encanto e sensatez. Igualmente, vejo que os anos passam e o projeto de Ozanam mantém sua atualidade.
Ainda assim, vemos que em boa parte do mundo se aprofundam a exclusão e a marginalização. Creio que nos tempos presentes e futuros, além do serviço direto com o pobre, a SSVP deve combater com maior esmero as causas que mantêm a pobreza. Elas são várias. Citarei apenas quatro. 1. Os desequilíbrios ecológicos. Dos quais o querido Papa Francisco nos alertou na encíclica Laudato si. E cujos primeiros prejudicados são os excluídos. 2. O crime organizado, cujo tentáculo mais monstruoso é o narcotráfico. Onde o crime organizado está, se perpetua a pobreza. 3. Políticas e economias desacertadas, como o capitalismo selvagem, que, como diz o Papa Francisco, é uma economia que mata. Também os modelos de extrema esquerda. Ainda que hoje haja menos países que o sustentem, mostram a olhos vistos seu fracasso. Inclusive, me animo a dizer que muitas pessoas promoveram estas políticas sociais errôneas, pouco efetivas, com boa vontade. Seja como for, tanto as políticas capitalistas extremas como as de extrema esquerda, produziram muita pobreza. Algumas de forma mais imediata e outras de forma mais mediata. 4. A corrupção política, seja de qual for o partido, que desvia os fundos sociais para seus bolsos pessoais. Vale a pena aqui recordar a frase de Confúcio. “Em um país bem governado, a pobreza é algo que envergonha. Em um país mal governado, a riqueza é algo que envergonha.” Há mais causas, mas por hora vamos ficar com estas quatro.
Como reverter estes 4 problemas que são verdadeiras “fábricas” de criar pobreza? Como conseguir uma mudança profunda nas estruturas e nas mentalidades? Não há receitas, mas sim critérios. Como cristãos e vicentinos nossa maneira de agir começa por lidar com outros parâmetros e riscos. Não é deixar as obras de serviço e promoção; e sim somar ações coordenadas que enfrentem estes 4 problemas. Os que administram estes males querem nos fazer crer que são invencíveis…, mas tudo aquilo que não é Deus pode ser vencido. Outro critério é que onde haja fome, frio, doenças, violência, desemprego, guerras, crianças abandonadas, anciões esquecidos, violação de direitos humanos, onde existam estas realidades, nossos planos evangelizadores sociais se movem com urgência para as pessoas e as comunidades afetadas buscando a solução definitiva. Priorizando as pessoas e pensando a partir delas uma estrutura sã de sociedade. Necessitamos refazer o pacto com as pessoas, com as comunidades e com suas necessidades concretas. Precisamos reconquistar o olho no olho na relação com o outro, onde o encontro esteja marcado pelo compromisso ético.
Outra pauta é a necessidade de adquirir maior formação. Um serviço ao pobre desatualizado, com pouca indagação, será sempre um serviço deficiente. Justamente por amor ao pobre buscamos de boa vontade uma formação permanente de qualidade. Esta deve ser uma característica transversal a todos os tipos de serviço realizados pelos vicentinos. Às vezes, observar tal quantidade de problemas pode nos angustiar, assustar ou intimidar. Mas lembremos o que disse o Beato Ozanam: “Me alegra ter nascido em uma época em que talvez tenha que fazer muito o bem”. Confesso que como Assessor Espiritual do Conselho Geral Internacional da Sociedade de São Vicente de Paulo, estou descobrindo muita gente boa e muito comprometida com os pobres. Com este material humano e com a ajuda de Jesus, Senhor da história, nos animamos a avançar um pouco mais na diminuição da pobreza.
P. Andrés R. M. Motto, CM.